Já nos dizia Lacan, “não é louco quem quer, mas é louco quem pode". O fato de ter certeza da loucura, já aponta para algo que não tem quase nada de loucura, mas sim um desejo de poder. Desejo esse que é barrado, e isso remete a castração, que é um complexo pelo qual todas as crianças vivenciam, o que é diferente é como cada uma delas passam por este momento. Umas são castradas, outras não e outras a desmentem.
O Rafael inicia o texto com as seguintes palavras, “Neste mundo de incertezas..." Acho interessante essa frase, porque que ela me leva a seguinte pergunta, que mundo de incertezas é esse? Esse é o meu mundo, esse é o seu mundo, as não de todos os sujeitos, esse é o mundo dos Neuróticos, esse é o mundo daqueles que foram castrados.
Mas e porque não é o mundo de todos? Porque existe um mundo no qual os que querem estar nele não podem, só podem estar nesse mundo os que não foram castrados e esse não é o mundo das incertezas, pelo contrário, nesse mundo não a lei, nesse mundo não existe ordem, tudo que se deseja lá pode ser realizado, até pular do terceiro andar para voar é possível.
“... onde as meias verdades, se passam por inteiras..." Essa frase me leva a pensar um pouco no aparelho psíquico proposto por Freud na 1ª tópica. As meias verdades nada mais são do que as representações que se encontram no inconsciente, e elas são meias verdades porque passam por processos de condensação e deslocamento, e elas passam por esses processos justamente para poderem "passar", passar aonde? Passar pela censura que impede que essas "meias verdades" venham se manifestar, venham aparecer no pré e no consciente. E muitas vezes são nos momentos que o sujeito dorme que essa censura é "afrouxada", possibilitando que os desejos infantis se mostrem. As meias verdades sempre se passaram por inteiras, nunca toda a verdade será revelada, pois o inconsciente é infinito e sempre haverá um pouco mais de verdade lá para se manifestar.
... “E com ares inquisidores me colocaram contra a parede” ...” Essa frase começa com a seguinte expressão “ sombras soçobravam em meu silencio". Aqui já se pode falar um pouco da 2º tópica, soçobrar é o mesmo que perturbar, sombras que perturbam o silêncio, essas sombras, são as vozes do supereu que perturbam, que são tão forte que chegam a ser como "ares inquisidores que colocam contra parede". Colocam quem contra parede? Colocam o Eu contra a parede. E quem é a parede? A parede nesse caso é o Isso, lugar onde o Eu se defronta com os seus desejos. E agora?
" O que realmente somos?" pergunta Leal.
Somos a expressão exata do passado que se presentifica a todo momento.
" O quão distante estamos daquilo que realmente gostaríamos de ser?" Essa é mais uma pergunta que Rafael faz em seu texto. Tenho aprendido que na verdade essa distancia pode estar mais perta do que imaginamos. A distancia se encurta para aqueles que desejam.
" Quando deixamos de ser verdadeiros com nós mesmos?". Deixamos de ser verdadeiros com nós mesmos todas as vezes que achamos que não precisamos do outro, quando na verdade um dia algum Outro, esse com letra maiúscula, foi o responsável por essas verdades existirem dentro de nós, mas o grande Outro que depositou dentro nós as tais verdades não continua sendo o responsável por deixarmos de sermos verdadeiros com nós mesmo, é preciso que haja uma responsabilização em cada um de nós quanto as nossas verdades.
Gostaria de dar um salto no texto agora, acho o final maravilhoso, ...'' somente como loucos poderemos ser verdadeiros''. Certamente que somente como loucos poderemos ser verdadeiros, poderemos não, poderíamos ser verdadeiros. Porque só é louco quem pode e logo não podemos(neuróticos) ser totalmente verdadeiros. O que nos restas é conviver com "meias verdades que se passam por inteiras". Esse é um "privilégio" só dos sujeitos psicóticos, ali sim o inconsciente está a céu aberto, não existe disfarce, não existem "meias verdades", o que se deseja na maioria das vezes se realiza, o seu mundo não tem normas, não tem regras, basta desejar que as verdades saem como que pelos seus poros.
Mas desejar e falar de todas as verdades nem sempre é um privilégio, as vezes os desejos que se realizam podem ser problemas graves em famílias e para outros tipos de grupos sociais. Recentemente um menino pulou do terceiro andar do prédio porque desejou voar e só não veio a falecer porque acabou caindo em cima de uma pessoa.
Quando não existe lei, os sujeitos são totalmente verdadeiros, mas o mundo sem lei é o mundo da loucura, é o mundo da confusão, onde não existem regras todos falam juntos e não se entendem.
É necessário que o Nome-do-Pai opere para que possamos conviver em sociedade com pelo menos um pouco de ordem e sentido.
Forte abraço,
Guilherme Manhães.
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