A FORMA e A REFORMA





A Forma e a Reforma


Foi a partir de uma visita ao Hospital psiquiátrico Dr. EIRAS situado na cidade de Paracambi, no Rio de Janeiro, em setembro de 2010 que nasceu em mim o desejo de escrever sobre duas palavras, Forma e Reforma.

A palavra FORMA estaria articulada ao ensino universitário e a palavra REFORMA articulada a transmissão de saber por outra via.

Apesar de importante não dedicarei muitas palavras a FORMA, ao saber universitário, porque na maioria das vezes ele é simplesmente isso, muitas palavras, muitos conceitos, que são tomados como verdades incontestáveis. Será que os conceitos e palavras trazem as verdades que eles afirmam?

As faculdades cumprem bem esse papel de formar, de colocar literalmente futuros profissionais na forma ou na fôrma. Mas a transmissão do saber está para além, tem haver com a transferência, tem haver com o desejo, tem haver com a Reforma, e é sobre ela que quero falar mais.

O que faz uma profissional abrir mão de seu final de semana para ir até uma cidade tão distante com um grupo de estagiários? Penso que só pode ser o desejo de uma transmissão de saber, onde não está em jogo o capital, mas a cumplicidade e o amor. Amor? É, amor pela Reforma, não falo simplesmente da reforma psiquiátrica, mas a reforma do pensamento cristalizado pelas instituições.

Como não aprender assim? Mais do que leituras, neste ultimo final de semana tivemos o privilégio, de olhar, de escutar, de tocar, de ser tocado e de sentir a loucura no seu nível mais Real. Um real que é muito mais do que a realidade concreta, um real numa escrita lacaniana, que não pode ser simbolizado.

O privilégio da transmissão faz isso, faz lembrar dos contos com prazer da história de um lugar, sem pressa e sem demora. Que deleite foi aquele momento de poder escutar tamanhas riquezas e detalhes da história de sujeitos que para muitos nem histórias tem, mas que para alguns, como essa que nos transmiti com tamanha graça as preciosidades, são mais que indivíduos com um número de identificação, mas são sujeitos que tem seus nomes e suas próprias histórias.

Isso é reformar o pensamento, isso é encontrar com a verdade inquestionável, onde os olhos e os ouvidos se defrontam com algo que é da ordem do traumático, não no sentido de adoecer, mas de não poder mais esquecer, pois o que é traumático, pode ser recalcado, mas não apagado.

Entrar naqueles lares e contemplar o sorriso de pessoas que passaram vinte anos trancadas e vivendo sob condições tão horríveis que chegam a ser inimagináveis, valem sem exagero algum, muito mais do que cinco anos de formação nas universidades, na lógica da FORMA.

Cynthia, obrigado pela REFORMA na minha ex-FORMA.

Guilherme Manhães

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