Uma canção...

Tem uma canção que tem me afetado nos últimos dias, ela se chama "Sutilmente" do Samuel Rosa e do Nando Reis.
No início ao ouvi-lá, sentia o desejo de vivê-la para sempre, ainda mais a parte que diz: " quando eu estiver morto suplico que não me mate dentro de ti".
Afinal quem quer morrer?
Falar da morte dos outros é um pouco mais fácil, mas falar da nossa própria morte não é tão simples.

Cheguei a colocar essa frase no meu perfil do Orkut de tão intenso que ela estava para mim.

Mas as coisas começaram a mudar quando lembrei da forma como minha primeira supervisora lançava as sementes da psicanálise na terra onde os meus desejos se encontram. O nome dela, inesquecível é Simone Tavares, tão cedo nos deixou, mas tão grande ensino nos deixou.

Simone nos passava uma canção e pedia para encontrarmos nela os conceitos da psicanálise. Como isso era difícil, mas divertido.

Não sei se você lembra de um dos meus primeiros textos aqui no Blog, que tinha como titulo " Quando o corte é necessário". Falei de como estava complicado abrir mão de um estágio que eu gostava muito, mas que era preciso para que eu pudesse desejar e buscar outras coisas. E um dos frutos desse corte foi a minha busca por um estágio em Saúde Mental, depois de uma experiência de algumas visitas ao CAPS da UERJ, tive a felicidade de passar no processo seletivo para uma clínica privada que trabalha com Saúde Mental.

Convivendo mais próximo dos psicóticos, a música que citei passou a ter um outro sentido.
Segue abaixo trechos da canção e as minhas viagens.

" Quando eu estiver triste
Simplesmente me abrace"

Não estou dizendo que não se deve abraçar alguém quando se está triste, mas essa frase mostra o ideal dos nossos dias, é preciso estar sempre feliz, não se pode estar triste. Parece que é algo anormal alguém passar alguns momentos tristes, e quando isso acontece, o que tem sido feito infelizmente na maioria dos casos? Busca-se logo um anti-depressivo para "resolver o problema".

Alguns estudos apontam que daqui alguns anos a depressão será a doença que mais irá matar. Porque será?

" Quando eu estiver louco
Subitamente se afaste"

Essa parte da canção é a que mais me dá medo e tristeza. Pelo amor de Deus quando alguém estiver "louco" não se afaste, seu eu pudesse eu colocaria essa parte assim " Quando eu estiver louco se aproxime de mim e me olhe como um sujeito".
Tudo o que o "louco" quer é ter pessoas a sua volta o tratando como um ser humano e não como um "bicho" que pode machucar alguém, que seja preciso que se saia de perto dele rapidamente. Alias, pretendo escrever um texto sobre as alucinações, como elas propiciam um bem estar ao sujeito psicótico em alguns casos.

" E quando eu estiver bobo
sutilmente disfarce"

Essa eu não tenho vontade de mudar nada, acho ela perfeita. Alias muitas vezes em vez de simplesmente disfarçarmos deixamos o bobo daquele dia com cara de bobo mesmo, esbanjando que sabemos o melhor jeito de se comportar, de falar e de tantas outras coisas.

" Mas quando eu estiver morto
Suplico que não me mate dentro de ti"

Não queremos morrer e como se não bastasse queremos estar vivos no coração de alguns depois que o nosso corpo morre.
Isso me faz pensar na importância do luto, como é extremamente importante que realmente matemos pessoas, coisas e objetos de dentro de nós algumas vezes. Quando esse luto não é feito o risco de se caminhar para uma melancolia é grande. Então que possamos aceitar e se for preciso que cantemos " Quando eu estiver morto, me mate dentro de ti". Esse processo é fácil? Não, ainda mais quando falamos de alguém especial. Lembro de quando perdi a minha avó, o meu tio que é mais novo que eu vivia a dor daquele momento, estava passando pelo seu processo de luto, de elaborar a perda da sua mãe. Mas esse momento tão importante na vida dele foi interrompido por amigos que o levaram no dia da morte de sua mãe para uma festa. " Você está muito triste", diziam eles. E eu pergunto, como se deve estar quando se perde a sua mãe? Sorrindo e indo para baladas? Claro que não, sabe qual foi a consequência disso para ele? Depois de ter passado um ano da morte de sua mãe, ele desabou em uma crise em um casamento de sua irmã lembrando da mãe.

Que possamos aceitar e entender que as coisas e as pessoas na vida não duram para sempre, que haverá momentos de estar triste, momentos de se aproximar de quem achamos tão estranho e momentos de perder quem não queremos perder.

Guilherme Manhães

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