O texto abaixo foi produzido depois de dúvidas de alguns alunos frente aos encontros com esses conceitos importantes da clínica psicanalítica.
E o próximo será uma releitura de '' A certeza da loucura'', até lá pessoal.
Forte abraço
Guilherme Manhães

Signo, Significado e Significante

O signo, o significado e principalmente o significante são termos que Jacques Lacan retomou do Curso de lingüística geral de F.Saussure para demonstrar como o inconsciente é estruturado como linguagem. Saussure divide o Signo lingüístico em duas faces, uma em conceito que mais tarde em sua obra ele chamará de significado e a outra ele chamou de imagem acústica que depois ele passou a chamar de significante. Esses elementos estão estritamente ligados e por isso podemos dizer que o signo é a relação de um significado com um significante. O significado é o conceito, ou seja, uma idéia, aquilo que podemos abrir o dicionário e encontrar. O significante é uma imagem acústica, que é a junção de letras mais o som que essas letras produzem.Um conceito vai sempre remeter a uma imagem acústica e vice-versa


Apesar da relação que um significado tem com um significante o signo é regido pela arbitrariedade, ou seja, ele não tem lei. Um mesmo conceito defini as três imagens acústicas como no exemplo abaixo.

A conclusão que chegamos é que o que a palavra indica é a coisa que ela representa. Para Saussure o significado está sempre em prevalência ao significante.
O que Lacan irá fazer é inverter essa ordem, dando então prioridade ao significante sobre o significado, porque o inconsciente se interessa pelo significante muito mais do que pelo significado. E porque o inconsciente se interessa tanto assim pelo significante? Porque o inconsciente não se interessa pela definição do dicionário, como no exemplo árvore, que é no dicionário um vegetal de tronco lenhoso cujos ramos saem à curta altura do solo. O que interessa, o que é mais importante para o inconsciente é o que o significante árvore remete ao sujeito, podendo remeter, por exemplo, a uma árvore de uma cena da infância onde ocorreram situações fortes da vida libidinal do sujeito.
Em uma análise o que se trata não é a articulação do significante árvore com seu significado, como fazia Saussure na lingüística, mas trata-se de da articulação do significante árvore com outro significante.

Assim podemos ver a prevalência do significante sobre o significado.

O que é interessante em Lacan é que o significado é outro significante, não existindo significado fixo de nenhum significante. Se pegarmos um significante e fixamos um significado com um significante e em seguida formos definir este ultimo, vamos encontrar outro significante e assim por diante.
Nas palavras do Antonio Quinet o inconsciente é constituído assim:

‘‘Pelo desfilamento dos significantes, que deslizam sem cessar não se detendo em significados’’.

Lembro-me de em uma aula a aluna perguntando ao professor, ‘‘ o significante é aquilo que eu interpreto?’’. E o professor respondeu que não, para desespero de quase todos. Mas por que não é?
O significante é apenas o som da palavra esvaziado de sentido, como uma palavra estrangeira desconhecida ou nome próprio que, embora designe, nada significa. Se não se conhece ninguém que responda por aquele nome próprio, esse nome próprio não é mais do que um som de uma palavra. O Quinet nos deixa um ótimo exemplo: ‘‘Trafoi. O que quer dizer Trafoi? Para mim não significa nada, só me remete ao exemplo de Freud. Ao ouvir Trafoi, penso imediatamente que faz parte da associação de idéias de Freud, dessa formação do inconsciente em que ele esqueceu o nome Signorelli e que em seu lugar veio o significante Baltrafio, que ele associou a Trafoi. Eis o significado desse significante para mim, mas poderia continuar infinitamente dando seqüência a essas associações a que ele inicialmente me levou’’.
Guilherme Manhães.


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